janeiro 14, 2014

Para Refletir: Um Conto de Fadas







Maria Emilia Voss, uma peregrina de Santiago, conta a seguinte história:

Por volta do ano 250 a.C., na China antiga, um certo príncipe da região de Thing-Zda estava às vésperas de ser coroado imperador; antes, porém, de acordo com a lei, ele deveria se casar.

Como se tratava de escolher a futura imperatriz, o príncipe precisava encontrar uma moça em quem pudesse confiar cegamente. Aconselhado por um sábio, ele resolveu convocar todas as jovens da região, para encontrar aquela que fosse a mais digna.

Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos para a audiência, sentiu uma grande tristeza - pois sua filha alimentava um amor secreto pelo príncipe. 
Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao ouvir que ela também pretendia comparecer. A senhora ficou desesperada:

- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes apenas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça! Eu sei que você deve estar sofrendo, mas não transforme o sofrimento em uma loucura!

E a filha respondeu:

- Querida mãe, não estou sofrendo e muito menos fiquei louca; sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, isto já me torna feliz – mesmo sabendo que meu destino é outro.

À noite, quando a jovem chegou ao palácio, lá estavam efetivamente todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, as mais belas jóias, e dispostas a lutar de qualquer jeito pela oportunidade que lhes era oferecida. 
Cercado de sua corte, o príncipe anunciou o desafio:

- Darei para cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a flor mais linda, será a futura imperatriz da China.

A moça pegou a sua semente, plantou-a num vaso, e como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava terra com muita paciência e ternura - pois pensava que, se a beleza das flores surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado.

Passaram-se três meses e nada brotou. A jovem tentou um pouco de tudo, falou com lavradores e camponeses – que ensinaram os mais variados métodos de cultivo – mas não conseguiu nenhum deu resultado. A cada dia sentia-se mais longe o seu sonho, embora o seu amor continuasse tão vivo como antes.

Por fim, os seis meses se esgotaram, e nada nasceu em seu vaso. Mesmo sabendo que nada tinha para mostrar, estava consciente de seu esforço e dedicação durante todo aquele tempo, de modo que comunicou a sua mãe que retornaria ao palácio, na data e hora combinadas. Secretamente, sabia que este seria seu último encontro com o bem-amado, e não pretendia perde-lo por nada neste mundo.

Chegou o dia da nova audiência. A moça apareceu com seu vaso sem planta, e viu que todas as outras pretendentes tinham conseguido bons resultados: cada uma tinha uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores.

Finalmente vem o momento esperado: o príncipe entra e observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, ele anuncia o resultado - e indica a filha de sua serva como sua nova esposa. 
Todos os presentes começam a reclamar, dizendo que ele escolheu justamente aquela que não tinha conseguido cultivar nenhuma planta.

Foi então que, calmamente, o príncipe esclareceu a razão do seu desafio:

- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz:

a flor da honestidade.

Todas as sementes que entreguei eram estéreis, 
e não podiam nascer de jeito nenhum.

Paulo Coelho
Publicado no Jornal O Globo
www.paulocoelho.com.br

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